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A Estagiária

A Estagiária

Daquelas respostas mesmo bem dadas.

A propósito do post em destaque da Madalena lembrei-me de uma conversa que ouvi há uns dias entre o Chefe de outro departamento e uma subordinada:

 

Ele: Então e as meninas aqui do part-time como estão? (Notem que nunca vi estas pessoas sairem um dia a horas do trabalho, o mais tarde que já saí foi uma hore e meia depois da hora de saída e continuam sempre cá)

 

Ela: Part time? Part time é o que eu faço com a minha filha!

 

Quem me dera ter metade desta qualidade.

Era só para deixar um agradecimento às 10000 lojas do chinês aqui perto...

Tive a brilhante ideia de comprar meias de liga autofixantes - porque posso, porque quero, porque gosto, porque sim, whatever

 

O ponto é que as sacanas por algum motivo pararam de funcionar. Isto é cada passo que eu dava caia-me a meia perna abaixo. Quando é que isto acontece? Acabadinha de voltar da hora de almoço para o trabalho. 

Estão a ver quando precisam muito de ir à casa de banho e juntam muito as perninhas ou vão cruzando uma perna à frente da outra e andam num pseudo-saltitar? Era eu a andar até chegar à minha cadeira a agarrar nas meias através da saia...

 

O que vale é que a outra rapariga que está a fazer o estágio comigo me resolveu o assunto e comprou-me umas collants normais no chinês. É para eu aprender a não querer ser sexy e femme fatale.

 

Escusado será dizer que amanhã venho de calças

Trabalhar com homens vs trabalhar com mulheres.

Hoje calhou ir almoçar apenas com elementos masculinos aqui do trabalho. Fez-se uma refeição simpática e no fim, ao ir pagar ao balcão a senhora da caixa comenta comigo:

 

- Uma menina no meio dos rapazes que giro!

Estagiária: - Pois...é assim (calculo que já devem ter percebido as minhas fortíssimas capacidades de interacção social…)

Aparentemente a senhora não fez grande caso da minha resposta e decidiu passar-me um pedaço de sabedoria, aproximou-se de mim como se fosse partilhar o segredo da vida para lá da morte e sussurra:

 

- Olhe é muito melhor trabalhar só com homens do que com mulheres… É triste, mas é a realidade

 

Já não é a primeira vez que oiço coisas destas mas também já ouvi muitas vezes o contrário. Como por cá sou pau para toda a obra já me calhou a sorte ou o azar de estar nas duas situações.

 

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 Ao trabalhar só com homens ou somos one of the guys, ou não somos nada. É só bola-gajas-carros-telemóveis-mais bola-mais gajas. Ocasionalmente ainda se falou das quedas dos aviões ou das eleições na Grécia mas dá-se sempre a volta para chegar à bola. Porque aviões é parecido com carros e o carro do Sujlemani (?) estava em nome de uma funcionária das finanças e quando menos esperamos já estamos a falar do jogo do carcavelinhos contra o farense, que a malta tem sempre que opinar sobre tudo o que meta 22 gajos atrás de uma bola. 

 

Confesso que nestes tempos sinto falta de alguém para falar comigo sobre a nova colecção da Mango ou sobre a princesa real...porque isto de sorrir e acenar enquanto se discute se o lance foi fora de jogo ou quem é que anda ao colinho dos árbitros ou qual é a actriz de pornos (sim já estive numa conversa assim) mais “gostosona” tem o seu quê de cansativo.

 

 

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Trabalhar com mulheres para mim sempre foi complicado. Circula por esse mundo fora o mito que as mulheres são todas uma cabras e infelizmente com as experiencias que tenho tido sou forçada a concordar. Gostava muito de ter a visão cor-de-rosa das coisas girl-power e amigas forever mas a verdade é que ainda está para vir o dia em que não fui lixada por uma colega. É entregar coisas a chefes sem pôr a restante equipa do projecto em cc e falar só no singular como se tivesse feito tudo, é ir embora de fininho à hora certa sem oferecer ajuda quando o único motivo pelo qual fico até tarde é porque passei o tempo todo a ajudar a dita cuja, e nem vamos começar no falar mal nas costas que este post já está bem grande e esse tema dava para escrever vários livros.

 

Ainda estou para descobrir porque é que nós mulheres temos de nos lixar umas às outras. Mas acontece. Como a Sra. do café disse e bem: É triste mas é a realidade.

 

A questão que se coloca com este devaneio é a seguinte: se as mulheres são todas umas cabras e os homens são todos uns porcos com quem é que é suposto trabalharmos?

Das coisas que não se dizem em entrevistas de emprego

Se há tema recorrente aqui na barraquinha entre os mais seniors na empresa são as respostas que já ouviram em entrevistas de emprego. Respostas alucinantes de quem não tem noção do que diz ou de quem diz o que pensa e depois leva por tabela.

 

 

 

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1: Então e porque é que está interessado em trabalhar connosco nesta área?

 

- Na realidade não estou, eu só quero é ganhar experiencia para montar o meu negócio daqui a um ano.

Óptimo, já ganhou! Os empregadores estão mesmo interessados em dar formação a uma pessoa para esta sair um ano depois e seguir os seus sonhos… Spread your wings and fly!

 

2: Gosta de trabalhar em equipa?

 

- Odeio, por mim se me pusessem sozinho num canto a fazer o meu trabalhinho era feliz.

Ok… então… porque é que se candidatou a um cargo onde se pede uma pessoa com gosto por trabalhar em equipa?... Pois.

 

3: Qual é o seu maior defeito?

 

Sou muito teimosa.

Esta até nem é muito má mas pelo que me dizem faz parte do ABC das entrevistas que esta palavra não pode surgir em nenhum ponto da conversa... só falta acrescentar que é perfeccionista e gosta de ir ao cinema, estar com amigos e passear na praia…

 

E agora a melhor de todas, o créme de lá creme das histórias de entrevistas de emprego que já ouvi (sintam-se à vontade para partilharem uma que supere isto):

 

4: Se fosse um animal qual é que seria?

 

Uma cabra.

...

...

 

Sobre esta não tenho nada a dizer. Uma pessoa tem de ser sincera, it is what it is…

 

 

Good Boss, Bad Boss #5

Estou doente. Tenho aquela coisa espetacular chamada amigdalite, e tenho isso quase de 15 em 15 dias – sem exagero. (ok com exagero)

 

Esta fantástica condição leva-me a consumir mebocaína forte a doses de cavlo, tanto que nem a tenho na mala, já está na secretária para estar o mais à mão possível.

Aqui está calor, e por isso a mebocaína começou a derreter –não me perguntem como mas derreteu. Isso atraiu formigas para a minha mesa – sim é péssimo, sim provoca-me um certo desconforto. Mas o que me deixou mesmo desconfortavél ontem foi esta saída do chefe:

 

- “Eh láaaa tantas formigas! Isso é porque és um doce!”

 

Alguém me acuda.

Dizem que a ficção é o mais perto que alguma vez vamos estar da magia.

Adoro ler. Gosto de como ao ler posso sentir todos os sentimentos que o ser humano pode experienciar. Apaixono-me, choro, rio, zango-me, sofro, sorrio, amo. É uma experiência incrível. Gosto de sentir as páginas na ponta dos dedos quando começo um novo livro, de como tudo pode ser usado como marcador, cartas, lápis, elásticos, ganchos – já cheguei a marcar um livro com os documentos do carro. Nós leitores, somos creativos.

 

Gosto de saber que há sempre novas histórias para ler, e histórias antigas para revisitar, de como nada é impossível num livro, da forma como cada pessoa interpreta da sua maneira singular o mesmo livro. Dá-me conforto saber que até as pessoas mais solitárias encontram nos livros um amigo. Que o sol pode estar a brilhar ou a chuva pode estar a inundar o mundo e mesmo assim um livro mantém o nosso foco total.

 

Adoro que os livros sejam quase como uma droga legal para a mente. Que um livro com a capa amachucada e as páginas com marcas seja um sinal de quanto foi amado e não o contrário. Gosto que os livros não sejam exlusivos apenas a pessoas que possam ver, ouvir ou falar – os livros são universais e recebem toda a gente nas suas páginas de braços abertos.

 

Dizem que a ficção é o mais perto que alguma vez vamos estar da magia. Esqueçam as cartolas e os coelhos, abram um livro e um mundo inteiro vai sair de lá. E não interessa se está repleto de dragões, órfãos, reis ou feiticeiros, somos imediatamente outra pessoa e estamos noutro lugar. Somos transportados.

 

Ler dá-nos um sítio para ir quando temos de ficar parados onde estamos” . E se isso não é magia, não sei o que será.

Good Boss, Bad Boss #4

Hoje foi dia de reunião – era para ser quinzenal mas o chefe decidiu que tinha de nos informar de uma nova medida importante que quer instaurar.

 

Diz que tem assistido uma aulas de gestão de tempo e como tem muitos emails, muitas chamadas, muita coisa ao mesmo tempo não consegue trabalhar –o que é no mínimo caricato – e eis que encontrou a solução:

 

Às quartas e sextas das nove à uma, nem que a casa esteja a arder, não venham ao meu gabinete, não telefonem, não enviem emails porque eu não vou atender nem ler.

Chamei-lhe A Hora do Túnel.

 

Lá está. Nós que esperamos em média 6 horas para ter uma resposta a um email ou uma dúvida esclarecida agora bem que podemos esperar sentados, fazer uma rodadas de mahjong, ir fumar um cigarrinho ou tomar uns cafézinhos, que agora é A Hora do Túnel e o chefe precisa de trabalhar (sim porque não faz parte do seu trabalho delegar tarefas e orientar os estagiários...nem pensar).

 

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Quem devia criar uma hora do túnel era eu, podia ser que estas bacoradas coisas me passem ao lado.  

Coisas que se ouve nos transportes públicos.

São seis e picos, a malta está toda com pressa para voltar a casa. Não é sexta-feira, e por isso mantêm o mesmo ar sorumbático de segunda a quinta, mas são seis e picos e nota-se o alívio por mais um dia que já passou. 

O comboio ainda não chegou. Vejo um miúdo pequeno, não deve ter mais de seis anos, a passar a linha amarela e a aproximar-se perigosamente da borda da plataforma. 

 

O pai diz: "Filho não te aproximes daí...

 

que ainda cais?

que não quero que te magoes?

para não te acontecer nada de mal?

 

Não. 

 

"Filho, não te aproximes daí que eu quero ir para casa ver o FC Porto perder"

 

Parenting level: Off the charts.

Sobre esta coisa do Tinder (ou o inadequado em ambientes de trabalho).

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Começo a vê-los a passaram de perfil em perfil, ora esquerda ora direita, a fazer “swipe” que é como lhe chamam. “Eles” são pais de recém-nascidos. São casado há mais de dez anos são, na minha cabeça, adultos ou gente crescida.

 

Pergunto-me o que é que os leva a terem um perfil nessa aplicação – que toda a gente sabe que é para encontros embora toda a gente insista em dizer que é “pra fazer novas amizades”. Pergunto-me mais um bocadinho. Não chego a conclusão nenhuma. Pergunto-lhes a eles. Risos nervosos, alguns fazem gracinhas, outros ficam calados mas lá vão atirando os motivos: É só para ver se a minha mulher não tem um perfil nisto “É sempre bom ter um plano B” “Um gajo tem de se manter no jogo”… Devo ter menos vinte anos que cada um deles e mesmo assim não me cabe na cabeça onde é que isso faz sentido. Talvez seja eu o “espírito velho”, ou a romântica incurável que acha que quando se encontra uma pessoa não se vai à procura de mais no ecrã do telefone só para ter ali de reserva, ou para continuar no jogo – sempre achei que o jogo ao pé de um amor a sério se torna velho e gasto. Mas isso sou eu.Decido tentar não os moralizar, afinal cada um sabe de si e eu não tenho nada a ver nem que opinar.

 

O problema é que parece que abri uma caixa de Pandora. Agora todos os dias vêm-me falar “desta que é toda boa” ou que “combinei tomar café com ela à hora de almoço” ou - a mais chocante até agora – “falei com uma colega de trabalho (de outro país) e ela contou-me que o marido não a satisfaz, não chega para ela e então ofereci-me para “acalmar a fera”. (Sim foi mesmo nestas palavras).

 

Lá por eu ter feito uma pergunta sobre o assunto não quer dizer que tenha interesse em estar a par dos devaneios digitais ou que passam para a vida real desta gente. Torna-se muito mais complicado não moralizar a situação e muito sinceramente deixa-me desconfortável.

 

Onde é que é o botão para desligar isto?